sábado, 29 de novembro de 2008

Dia 7 – 10/10/08 (sexta) – Vulcao Villarica (La casa del Diablo)

Acordei as 6h...fazia frio e quando sai com as águas e os meus sanduiches levei também minha mochila, afinal paguei a Sônia somente para as 10h de hoje e pedi para deixar minha mochila durante o dia na agência de turismo. Estava chovendo fino e fiquei preocupado pelo tempo mas lembrei que no dia anterior de manhã estava assim e depois melhorou. Parei pra tirar as fotos que faltavam da cidade e senti um pouco o joelho. Pensei comigo, como conseguiria subir 5h num vulcão naquele estado? Ainda tinha como não ir, mas não quis voltar atrás.




Cheguei na agência e encontrei um sul-africano (Loan) gente boa e cometei que não tinha comido nada...e não tinha mais tempo. Ele me deu uma banana e agradeci muitíssimo. Elas como sempre chegaram atrasadas, porque pediram para irem buscá-las no hotel e não foram andando como os outros ate a agência...peguei minhas roupas, me vesti, fui para o lado de fora, a garoa tinha parado e perguntei para o guia se dava pra subir com aquele tempo. Ele disse que as nuvens poderiam estar abaixo e que poderiam não subir para o topo do vulcão e que poderia estar sol lá em cima. Me lembrei que a mesma hora ontem também o dia estava nublado e depois fez um sol incrível.


Fizemos uma reunião, tomamos algumas instruções básicas e entramos na blazer. Depois de muita subida, chegamos no teleférico que nos poupariam 1.000 metros dos 2.840 m totais. Quando sai, com a mochila, mas a roupa e mais a picareta e vi o ladeirão de neve que era, realmente tive a noção de onde tinha me metido...comprei o tickets e peguei um lugar com a Roberta no teleférico. Nos oito minutos fomos conversando e minhas mãos foram congelando...quando cheguei na base da estação de esqui corri lá pra dentro pra me aquecer. Encontrei o casal de brasileiros do supermercado e mais outro que estavam vaijando por um ano num motorhome desde o maranhão. Eles também iam subir o vulcão só que por outra agência.


O guia praticamente nos puxou para fora e nos deu ordens como se fossemos soldados. Me senti no exército. Começamos a subir, ele na frente, depois a Solange, Roberta, eu, Richard, Loan e o segundo guia. Isso em fila indiana. No inicio estava tranqüilo, mas depois de 15 minutos já me faltava ar e o vento rasgando minhas cara era uma coisa louca. Não conseguia colocar direito o capuz porque as luvas (2) eram muito grossas e também não conseguia secar os óculos escuros. De 30 em 30 minutos paravamos. Não dava pra sentar, porque se sentasse não levantava. Na segunda parada foi meia garrafa de água...pensei...o que faço nas 4 horas restantes de subida e 3 de descida?



O tempo estava querendo abrir e por vezes pude ver claramente por onde estávamos, não via nada além de branco. Olhar para cima não ajudava, para trás era lindo porem amedrontador em algumas partes. Por vezes passávamos rentes a descidas de neve de cerca de 40 metros e até que tivemos que encarar uma. Essa parte foi foda! Lembrei da recomendação do guia de ir passo a passo e pensar somente no passo seguinte, sem me preocupar com o que ainda faltava. Comecei a subir e sempre em um degrau mais alto usava a perna esquerda, não forçando o joelho direito. Mas era impossível fazer isso o tempo todo.


No fim da subida, tive que sentar. Comi um pedaco de chocolate que estava duríssimo e comecei a pensar qual de nós desistiríamos primeiro. Via outros grupos mas a frente e não conseguia imaginar como chegaria ate onde eles estavam. Estava cansadíssimo, mas sempre que o guia perguntava se estávamos bem eu dizia que estava ótimo.


Na próxima subida, não tão ingrime mas com uma espessura de neve muito grande, o que fazia cada passo um esforco do karalho, já não sabia mais quem estava na minha frente ou atrás de mim. Por uns 5 minutos pensei que era o Loan mas era a Roberta que por várias vezes caia na minha frente. Eu caia, mas não caia tanto. Na verdade depois de um tempo só conseguia olhar pra baixo, pros lugares onde pisar e era impossível tirar fotos porque a máquina estava molhada e gelada, pensei até em parar de funcionar.


Pouco tempo depois a Roberta disse pra eu passar e o Richard também. Ela nessa hora disse que era asmática!!!! Nossa!!!! Pensei...corajosa a menina. Todos passaram por ela e o outro guia foi andando auxiliando-a. Eu mantive o ritmo e depois de umas 2 horas o guia anunciou que tinha um abrigo a 10 minutos antes de fazermos a parte final e também esperariamos o tempo melhorar.


Foram os 10 minutos mais longos de minha vida e acho que ali paguei todos os meus pecados. O vento era forte demais, a neve muito alta e estava ficando ingrime. Comecei a sentir que o Villarica não me permitiria vê-lo. O vulcão escolhe quem consegue subí-lo e acho que não fui um dos eleitos. O guia me falou que 80% dos brasileiros não chegam ao topo.


Depois do que pareceram 40 minutos, chegamos ao tal abrigo. Uma estação de teleférico coberta pela neve (5 metros de altura só de neve). Lá tinha o casla maranhense e só o marido do outro casal. Ela tinha desistido. Eles estavam tomando vinho e decidi não aceitar um pouco. Aquilo só iria piorar as coisas. Sentei na neve, minha bunda congelou e comi dois sanduíches. Lá o guia comentou do tempo e disse que poderíamos subir cerca de 100, 150 metros mais que devido ao tempo não seria possível chegar ao cume (ou seja, não iria ver a lava, que curiosamente sai de um furo de cerca de 1 m e depois por uma cratera de sei lá quantos metros, mas gigante, como um funil).



Eu realmente agradeci por não termos mais que subir e decididamente não queria ir mais. Senti um pouco de frustração no Richard mas por mim já tinha sido mais do que o suficiente. Começamos a descer e vi que também não é uma coisa fácil, é quando mais se cai e quando mais precisei do joelho. Aos poucos não consegui manter o mesmo ritmo que o deles e fiquei cerca de 100, 200 metros pra trás. Pronto, bateu um nuvem que não me permitia ver nada...as vezes via a roupa colorida deles, e somente sabia a direcao pelas pegadas na neve. Pela primeira vez me bateu um pouco de desespero e dei um grito alto e ai o guia parou e me esperou. Ao chegarmos nele quis dar um esporro, afinal era obrigação dele fazermos tudo juntos e não me largar la pra trás, mas desisti.


Consegui manter o ritmo e cheguei na estação. Ficamos esperando outro guia e a Solange que subiram os outros 100 metros para ver a mesma paisagem que vimos. Fiquei conversando com os outros brasileiros e me senti muito melhor. Acho que estava com sinais de hipotermia...nao sei dizer.



Descemos o teleférico, trocamos de roupa na agência e encontrei um brasileiro que conseguiu subir no topo no dia anterior, o dia que quase pensei em ir e ele disse que ia me mandar as fotos por e-mail. Depois fomos todos (até os guias) almoçar num restaurante chamado Koppa Cabana. Antes o Loan se despediu da gente e me passou seus contatos. Comi uma carne qualquer e ficamos conversando por cerca de 1h 30 minutos, sobre tudo. Eu estava indo bem no meu espanhol, mas evidentemente não conseguia falar tudo em espanhol.


A Solange muito solicita com todos e comigo a toda hora que falava algo, como se fosse um papagaio em espanhol dizia: Ele quis dizer isso, isso e isso. Uma hora o guia me falou algo e me perguntou se eu havia entendido, e não entendi nada! Mas ele estava fazendo um esforço legal e divertido de tentar me explicar e eu é claro em me comunicar, até que ela simplesmente se meteu para traduzir. Tipo...eu já havia agüentado muito e falei educadamente: Olha, deixa eu tentar entender, ok? Estou aqui para aprender não preciso que vc fique me traduzindo tudo. Isso não é legal. Ela me olhou com uma cara e a amiga riu, senti que a Roberta queria dizer o mesmo o tempo todo mas não tinha coragem de dizer! Aff...decidi aturá-las até ter que pegar o ônibus pra Santiago e tchau.


Caminhei um pouco, o joelho me parecia mais ou menos e peguei umas roupas para lavar. Depois fiquei papeando com crianças, velhos e até cachorros. No fim da noite começou a chover e o cara da agência nos levou até o terminal. Ficamos lá esperando o ônibus, comprei um café, chocolates, dei mais uns foras na Solange e segui para Santiago com elas ainda a tira-colo.

Um comentário:

  1. Sandro foi uma aventura mesmo... no verão, dizem que é mais fácil! Abraços

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